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Sentindo nossas fronteiras para sentir quem somos: a necessidade de estabelecer limites

Ugo Luna - Análise Bioenergética | Psicoterapeuta Corporal

 “Ousar estabelecer limites é amar a nós mesmos mesmo quando nos arriscamos a desapontar os outros” – Brené Brown

Esta foto com ares conceituais teve inspiração de uma experiência clássica da terapia bioenergética: a exploração do nosso senso de fronteira, limite e espaço pessoal.  Não há como ter coragem para buscar e lutar por um modo de vida e relações mais satisfatórias se não temos enraizado em nós a segurança de quem somos e um bom senso de nossas fronteiras pessoais.  Fronteiras, não muralhas.  Fronteiras maleáveis, que nos permitam ter uma troca sadia com o mundo sem nos trancarmos em anestesia e nem nos sentirmos invadidos a todo o momento pela carga do outro, pela carga do mundo. 

Neste laboratório relacional que é o consultório de Análise Bioenergética, podem-se criar oportunidades e situações para trazer à tona estes temas.  A própria relação com o terapeuta se torna um instrumento que permite atualizar e reparar traumas relacionais.  Mas como isso funciona?

Nesta visão terapêutica que apresento, partimos da ideia que só é possível ter uma real apreensão de nossos temas e questões de fronteiras e limites através da energia do corpo em relação.  Um exemplo de uma experiência (dentre várias) que pode facilitar este contato: a partir de certa distância, como a de paredes opostas do consultório, terapeuta e cliente em pé estabelecem contato.  O cliente observa e sente esta distância, e repara como este espaço em relação ao outro o mobiliza.  Então, como num segundo momento e com a devida autorização, o terapeuta lentamente inicia uma aproximação, caminhando devagar em direção ao cliente, dando tempo e espaço para que esta nova relação com o outro e com o espaço possa ser percebida.  No momento que o cliente sentir algum desconforto com aproximação, pede-se que estenda as mãos com as palmas erguidas para frente, e como se colocasse um limite vocalize em voz alta dizendo: Não!, e o terapeuta para e observa-se o espaço, a distância, as sensações.  Cada pessoa tem uma resposta diferente, que fala sobre o seu senso de conforto e espaço pessoal, e também quão poroso ou rígido é seu senso de fronteira.  Muitas vezes, esta experiência por si só já mobiliza e trás conteúdos e insights profundos. 

O “não” tem uma função estruturante na nossa organização emocional.  É notório o fato de como crianças aprendem a falar o “não” muito antes do “sim”, e justamente num período do desenvolvimento, em torno dos 2 anos de idade, que estão testando sua autonomia, aprendendo a andar e a reconhecer o espaço ao seu redor.  A capacidade de sentir o “não” e ter o “não” respeitado fala diretamente sobre nossa capacidade de nos sentir autônomos e independentes, ou ainda, com uma dependência sadia em relação às principais figuras de apego (figuras parentais) e na vida adulta as principais relações afetivas que estabelecemos.  E ainda: se não reconhecermos nossa capacidade de dizer “não” e estabelecer bons limites, também estaremos prejudicados em nossa capacidade de dizer “sim”: uma capacidade é construída a partir da outra; a “verdade” da nossa capacidade de dizer não reflete na inteireza com que conseguimos dizer “sim” para a vida. 

Respeitando, sentindo e reintegrando nossos limites e bom senso de fronteira, para estarmos seguros e corajosos para dizer “sim” à vida: assim é o caminho bioenergético. 

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