Quem gosta de ouvir um “não”? Poucos, imagino. O que talvez não seja óbvio é a importância do “não” em nossas vidas. O “não” em nossa infância, na forma de limites amorosos, é o que nos permite ter contorno e definição. ⠀
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Para muitos, esse período de quarentena foi recebido como uma maré de “nãos”- não pode sair, tocar, encostar… Com o enunciado que não respeitar esses limites pode custar a própria vida.⠀
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Tenho refletido sobre como a falta de um senso sadio de limites pode levar uma pessoa a arriscar sua vida. Limite é saúde, é o que permite nos perceber na realidade de nosso corpo, e assim na função adulta de ter algum cuidado sobre si. É o que permite uma pessoa ter um senso de responsabilidade sobre si mesma.⠀
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Mais uma vez: o limite nos permite ter uma percepção integrada sobre nós mesmos e sobre as sensações básicas de nosso corpo. É o que nos define, o que possibilita uma integração psicossomática. É o que pode nos dar um senso de contorno e realidade. Nessa perspectiva, uma pessoa que não conseguiu desenvolver um senso de limite sadio corre o risco de se tornar onipotente, além de infantilizada. ⠀
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Na onipotência, não se sente medo, pois esta é uma das emoções básicas de uma regulação emocional sadia. Na verdade, sente-se muito pouco, pois a integração básica que permite perceber a si mesmo através do contato com o corpo (função de limites sadios…) não foi desenvolvida. Há uma distorção do que a pessoa pensa sobre si e o que ela realmente é: mortal, falível, vulnerável. Na onipotência, só a ideia basta, pois o corpo está anestesiado e não se sente nada, nem o medo sadio que protege. ⠀
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Assim, adultecer é integrar limites como parte do cuidado consigo e com o outro. Como a criança onipotente em nós não sustenta limites e frustrações, além de não conseguir enxergar muito além das próprias necessidades, não desenvolve a capacidade empática de sentir o peso de suas atitudes perante o outro.⠀
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Precisamos de limites internos, subjetivos. Na falta desses, flerta-se inconscientemente com limites concretos. A morte concreta talvez seja o maior dos limites, e me pergunto se para algumas pessoas este não seja o único limite possível…
Ugo Luna
Psicólogo Clínico – Psicoterapeuta Corporal
CRP 05/47031
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