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Natureza

Blog Ugo Luna

Freud nos fala sobre as 3 grandes feridas narcísicas do homem. Essas feridas se manifestam como cutucadas ao nosso senso de onipotência, nossa soberba e prepotência em relação ao nosso lugar no mundo. Com Copérnico, descobrimos que nosso planeta não está no centro da galáxia, que somos um grão de areia no universo. Com Darwin, descobrimos que não necessariamente temos uma “origem divina”, mas somos fruto do processo evolutivo, apenas mais um animal buscando se adaptar às circunstâncias da existência. E em Freud, descobrimos que nem dono de si mesmo somos, pois o ego consciente é só o topo de um iceberg, onde em sua base está a vida inconsciente. ⠀

No início da pandemia, lembro de minha primeira reação diante das notícias que acompanhava. Pensei: “este vírus é um lembrete que não estamos acima da natureza, mas somos parte dela”. Uma ferida. Me pergunto agora se a crise do coronavírus tem o potencial de ser a grande (e necessária) ferida narcísica do século xxi. ⠀

A vida do ser humano médio do século xxi é marcada pelo narcisismo. Na dinâmica do narcisismo como pensado na Análise Bioenergética, a vida emocional do corpo, que nos traz um senso de realidade e conexão com a terra, é anestesiada, e as funções cognitivas da mente se sobrepõem à riqueza das sensações do corpo. Vivemos através de uma ideia, uma imagem de nós mesmos, desenraizada e num estado de conflito constante. Narciso está sempre fugindo do contato com seu eu real, que se funda na integração psicossomática, na vida no corpo. ⠀

Nosso corpo é um legado da natureza, e está submetido às suas leis. Nosso corpo é resultado de um design evolutivo e inteligente de milênios, é o presente das eras que nós empunhamos. E somos. Nós somos o nosso corpo. ⠀

Sentir-se acima da natureza é negar a herança mais bela que temos. O narciso em nós trata o próprio corpo como trata o planeta: explora, vandaliza, consome. ⠀

Talvez, antes de aniquilarmos a nós mesmos por conta do eu ilusório de narciso, precisamos, nem que seja por conta de uma pandemia, lembrar que através de nosso corpo somos parte da natureza. E talvez reconhecer nesse corpo a bênção das eras…

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