Freud, em sua época, notou um comportamento que se destacava nos homens das classes mais abastadas de Viena. Mantinham um vínculo amoroso com suas esposas, em especial perante a sociedade, porém sua principal atividade sexual era realizada com profissionais do sexo, onde qualquer envolvimento além do genital era evitado. Isso contribuiu para solidificar suas observações acerca da sexualidade infantil, e a forma como a neurose se instala nas crianças. Notou como o impulso amoroso da criança em relação a uma mãe ou pai se mistura com um impulso sexual em determinada etapa do desenvolvimento. A criança, em sua inocência, não cindia amor e a excitação sexual que manifesta em seu corpo, um processo natural que em seu rumo configura a sexualidade adulta. É a inocência da infância; e talvez a grande perda da inocência seja quando a criança descobre, por um processo cultural, social e familiar, que para não perder o amor por uma figura de apego importante precisa desviar seu impulso sexual. Eis aí o pano de fundo do sofrimento humano: sexualidade e vínculo amoroso se dissociam, gerando neurose e conflito. É a queda do paraíso.⠀
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Décadas depois, no auge da revolução sexual dos anos 60, Alexander Lowen escreve seu mais polêmico livro: “Amor e Orgasmo”, elaborando as ideias de Reich quanto a Função do Orgasmo como “cura” das neuroses. Traz a ideia que, além do processo energético que possibilita uma descarga profunda de energia represada no orgasmo, o amor há de se estar presente para que esse efeito terapêutico do orgasmo profundo aconteça dentro da intimidade de um vínculo profundo. É um livro que traz infinitas polêmicas, tanto por sua cisheteronormatividade, como também por sua visão taxativa da sexualidade humana.⠀
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Ainda assim, Lowen nos traz suas pérolas. Critica fortemente o que chama de “sofisticação sexual”: a tendência de usar a sexualidade de forma idealista, mais como uma ferramenta do narcisismo do que a experiência profunda do corpo em relação. Uma sexualidade rasa, que mais desconecta que aprofunda, que nega o vínculo e o contato em troca de um mundo mental de imagens e ideias. ⠀
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Seria essa “sofisticação sexual” a neurose de nossa época?
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Ugo Luna
Psicólogo Clínico – Psicoterapeuta Corporal
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