Conseguimos algumas respostas, ou ao menos algumas ideias mais sólidas, do que seria esta “tal de bioenergia”(eu espero), mas na prática, que contribuição a compreensão desta “energia” tem na terapia?
Comecemos pelo corpo. É William Reich que nos trás uma visão integrada, onde os fenômenos psíquicos e somáticos surgem do mesmo núcleo energético biológico do corpo humano. A energia, nesta perspectiva, representa manifestações biológicas do organismo como um todo. Há duas tendências de movimento da energia biológica: a expansão do núcleo corporal para a periferia, que pode ser descrita como a experiência de prazer corporal ou liberação de carga emocional; e a contração da periferia ao núcleo, com a experiência de angústia ou desprazer. O que define a livre circulação e fluxo, ou a repressão e bloqueio da energia biológica são as marcas e traumas no desenvolvimento de uma pessoa. São essas marcas e registros que definem determinada organização corporal, padrão geral de personalidade e inclusive os sintomas que levam uma pessoa à terapia. Podem haver formas de organização energética mais ou menos funcionais, que formariam a base dos diversos distúrbios psíquicos.
Uma forma de praticar a psicoterapia corporal é trabalhar diretamente nos bloqueios energéticos manifestos no corpo, facilitando o fluir e a expansão energética. Pode haver diferentes formas de realizar isso. Os bloqueios que impedem a energia fluir no corpo podem tomar a forma de tensões e contrações básicas e características de cada pessoa, como um padrão ou tendência muscular. Reich pensava que estas tensões se organizavam em diferentes aneis, ou segmentos, pelo corpo. Estes segmentos (que acompanham o desenvolvimento céfalo-caudal do feto humano: ocular-oral-cervical-torácico-diafragmático-abdominal e pélvico) seriam os pontos onde a energia estaria impedida de fluir, e trabalhar ativamente estes pontos poderia facilitar uma liberação da carga energética e assim uma maior capacidade de liberação e contato emocional. Toque, massagem e movimentos que visem a mobilizar e motilizar energia seriam possibilidades e tentativas de integração energética.
A respiração, como princípio regulador básico do metabolismo humano, é um elemento fundamental neste trabalho. A forma como uma pessoa respira diz muito sobre tanto como ela lida e se organiza diante de sua própria vida emocional, como a forma que se regula energeticamente. O trabalho com a respiração é uma grande porta de entrada para a compreensão e elaboração da vida emocional e energética de uma pessoa.
Outra forma de pensar o movimento energético complementar à circulação e o bloqueio é em termos de carga e descarga. A forma que uma pessoa se regula energeticamente pode falar sobre seu padrão de carga e descarga de energia que pode ser funcional e satisfatório ou restrito e insatisfatório. Há aquelas pessoas que tendem a uma baixa vitalidade, que parecem inclusive estarem lentificadas, cujo trabalho seria auxiliar a ampliar a carga energética corporal. Pode haver aquelas que têm uma tendência a acumular carga excessiva, com dificuldade e bloqueios em sua capacidade de descarregar de forma satisfatória, e assim ter dificuldade experiência de relaxamento, alívio e prazer. Movimentos expressivos e trabalho catártico também poderiam, dependendo como realizados, serem ferramentas neste processo. Ainda, pode haver aqueles cuja questão principal pode estar relacionada à capacidade de sustentar uma ampliação de sua carga energética sem recorrer a uma descarga precipitada num gesto ansioso, trabalhando a capacidade de ser continente de sua própria energia e dinâmica emocional. Na troca terapêutica busca-se construir de forma conjunta entre terapeuta e cliente formas de acessar e trabalhar estes diferentes perfis e tendências à medida que vão se tornando conscientes.
A percepção que o terapeuta tem sobre seus próprios processos e níveis energéticos são fundamentais para a realização de seu trabalho no consultório. O próprio corpo do terapeuta, com sua riqueza de sensações, é sua principal ferramenta de trabalho. Busca-se através do contato e da ressonância estabelecer um vínculo empático com o cliente, onde a partir daí pode-se estabelecer a construção de experiências e vivências que guiam o trabalho com o corpo. Por isso, esta percepção do nível energético do próprio terapeuta em relação ao cliente é tão importante. Com a devida atenção e percepção sutil, o terapeuta pode tentar se regular em relação ao cliente, e desta forma conseguir cadenciar o trabalho de forma diferente para cada pessoa. Parece complicado, mas não é, e inclusive é algo que acontece o tempo todo em nossas relações, que fazemos de maneira inconsciente. Imagine um cenário onde, por exemplo, um terapeuta se conhece como sendo uma pessoa que tende a ter uma carga de energia elevada, diante de uma pessoa num quadro depressivo, lentificada e com baixa vitalidade. Como se ajustar, para que esta troca não seja “intensa demais” para um cliente nesta situação, mas ainda mantendo o devido grau de fronteira necessário para se posicionar de forma eficaz? Estas são as várias nuances de uma psicoterapia que busca se relacionar e trabalhar de forma bioenergética.
Ugo Luna
Psicólogo Clínico – Psicoterapeuta Corporal
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