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“Felicidade Compulsória” e a tristeza como cura

Blog Ugo Luna

Um compartilhar: sinto algum grau de desconforto quando vejo arremessado em meu feed imagens de “influencers” tocando a vida durante este período pandêmico, aparentemente intocados por tudo que acontece, mantendo suas atividades de influencer de forma quase inalterada, sorrindo para as câmeras em seus filtros mágicos. ⠀

Isso me leva a uma reflexão sobre o narcisismo. Como sociedade, nos tornamos mal-acostumados a nos enxergar com olhos de quem vê de fora. É uma relação através da imagem: nos tornamos obcecados por uma ideia de quem somos, renegando a experiência de simplesmente “ser”. E nessa imagem exaltada de si não há espaço para emoções honestas e profundas, como a tristeza. ⠀

A tristeza tem o potencial de nos reconectar com a verdade de quem somos. A tristeza nos aproxima do chão, das nossas reais necessidades, aquelas que foram negadas pela necessidade constante de representar uma imagem. Mas como nos tornamos assim?⠀

Se nossa tristeza, raiva e pesar não puderam ser sustentados em nossa infância por pais narcisistas, que por sua vez só estavam atentos as suas próprias necessidades, aprendemos a mascarar nossos sentimentos reais e se adequar ao olhar do outro. Num medo profundo de perder o amor de nossos pais, nos submetemos às suas necessidades, as custas da realidade de nossa vida emocional. Passamos a confundir admiração com amor, e a vida se torna uma performance para alcançar o olhar do outro. Por sua vez, estas tendências são reforçadas pela cultura. ⠀

Romper com a performance é fazer contato com uma tristeza latente, muito antiga. Essa tristeza é o caminho natural do resgate a si mesmo. Mas há aqueles que se assustam com a tristeza, e não permitem que esse contato desencadeie um processo de cura. Logo se distraem novamente, em busca de estímulos. Retornam à performance, mas a tristeza continua lá, latente, e o conflito básico continua, forçando-nos a estar sempre “fazendo”, “distraindo a cabeça” para parecer feliz. ⠀

O contrário da depressão não é felicidade, e sim vitalidade, pela amplitude e riqueza de nossa vida emocional. Só assim podemos “ser” ao invés de “fazer”.⠀

Por isso digo: mais ‘self’, menos ‘selfie’!

 

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